Os indígenas podem não ter dinheiro, mas não são pobres. E são hoje guardiões de nosso futuro. - Manifestação da Comissão Arns

100 anos de Margarida são celebrados por frades dominicanos

14 Mar 2023, 18:13 Missa-margarida-fala2 Margarida fala após a cerimônia - Foto: Roberto Sungi

Como parte das comemorações de seus 100 anos, completados dia 10 de março de 2023, Margarida Genevois, presidente de honra da Comissão Arns, foi homenageada com uma missa na Paróquia São Domigos.

A celebração, realizada em 13 de março, contou com a participação de Frei Betto e a presença de parentes e amigos da aniversariante, que fez história na luta por justiça e emdefesa dos orpimidos, ganhando o título de "a dama dos direitos humanos".

Frei Beto destacou: "Margarida foi uma pessoa muito ativa durante um período em que nós, frades dominicanos, estivemos presos sob a ditadura militar. Ela fez muito e ainda hoje nos pergunta: o que mais eu posso fazer?!"

A socióloga Maria Victória Benevides, vice-presidente da Comissão Arns, leu uma mensagem emocionante sobre a trajetória da sua amiga de muitos anos: "Margarida Bulhões Pedreira Genevois sempre foi nossa maior referência na defesa dos direitos humanos e, especialmente, dos projetos de educação em direitos humanos – e continua sendo, ainda hoje, nosso leme e nosso porto seguro".

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Missa de celebração dos 100 anos de Margarida - Foto: Roberto Sungi

Agradecendo a todos, Margarida disse que não poderia ter feito muita coisa se não fosse a amizade e o apoio de seus amigos: "Vamos continuar juntos, pois ainda há muita coisa a fazer. Espero que a gente continue sempre unidos nessa responsabilidade que é nossa, de melhorar o mundo. O nosso Brasil está precisando de dedicação, de adesão, de pensarmos nos outros. Porque o essencial é que a gente trabalhe para os outros que estão próximos, sobretudo os menos favorecidos".

"Não deixem passar a ocasião de poder ajudar, vamos trabalhar juntos e sempre. Ajudem uns aos outros. Vamos trabalhar sempre pra que haja paz e amor entre os homens. Eu passaria tarde toda dizendo obrigada. Vamos continuar juntos, isso é o que importa. E que Deus nos ajude. Amém".

Leia a íntegra da mensagem de Maria Victória Benevides a Margarida:

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Maria Victória cumprimenta Margarida sob olhar de Frei Beto - Foto: Roberto Sungi

"Margarida Bulhões Pedreira Genevois sempre foi nossa maior referência na defesa dos Direitos Humanos e, especialmente, dos projetos de Educação em Direitos Humanos – e continua sendo, ainda hoje, ao completar 100 anos, nosso leme e nosso porto seguro.

Na Comissão Justiça e Paz, no começo dos anos setenta – em plena ditadura, com ela obedecemos ao chamado urgente para denunciar o arbítrio, acolher e defender os perseguidos em nome dos Direitos Humanos - expressão que resume o direito à vida com dignidade para todos e que, até então, não fazia parte do léxico dos progressistas. Dever difícil – e muitas vezes perigoso - mas não impossível. E Margarida, braço direito de Dom Paulo, jamais perdeu a coragem e a esperança.

Portanto, participar da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, foi decisão natural e imediata. Logo tornou-se nossa Presidente de Honra, sempre presente nas reuniões e nos atos públicos, desde 2019, início do governo inimigo dos direitos humanos, recentemente derrotado. Revendo fotos e relatórios do período de truculência, desumanidade e negacionismo, novamente nos admiramos com sua inabalável energia nas manifestações na Avenida Paulista, nos Atos pela Vida e pelo Brasil, no Tribunal Permanente dos Povos, na Catedral da Sé pelos povos indígenas, nos Atos pela democracia na Faculdade de Direito ... e no dia a dia das denúncias sobre os mais variados tipos de violências contra as comunidades pobres e periféricas, os pretos – jovens e mulheres, especialmente atingidos pelo abuso da polícia - os povos originários e tradicionais, a população em situação de rua, as crianças, o povo abandonado na pandemia, jornalistas e demais defensoras(os) dos direitos humanos.

Hoje, quando discutimos em nossas reuniões qual dever ser o papel da Comissão Arns neste governo do recomeço democrático, Margarida lembra que direitos humanos e democracia são indissociáveis; que liberdade, igualdade e solidariedade, justiça, paz e tolerância, são também os valores inegociáveis da democracia.

Margarida é uma mulher de fé. Há tempos abraçou o cristianismo radical, que se fortaleceu no convívio com Dom Paulo, Dom Angélico, Frei Betto e os dominicanos, Padre Júlio e seu belo trabalho nas ruas de São Paulo. O “seu” Jesus é aquele defensor dos pobres, humilhados e ofendidos, o Jesus de luta e de amor. O Jesus que respeita o samaritano, que cura os doentes, que acolhe a mulher desprezada, que festeja as crianças...mas que também denuncia o farisaísmo, que expulsa os vendilhões do templo. O Jesus do “vinde a nós o vosso reino, o Jesus das bem-aventuranças!

Esperança é o motor da coragem, diz Margarida. E arremata: num país marcado por desigualdades e injustiças devastadoras, não podemos sucumbir ao pessimismo ou à melancolia dos conformistas. Há que se ter – e aqui ela lembra seu amigo Paulo Freire - uma postura de alerta, em construção e em admiração diante de tudo o que afirma a vida com dignidade, que seja um permanente convite para se compartilhar a alegria de viver, trabalhar, criar e amar.

O centenário de Margarida nos convida à reflexão do porquê desse privilégio de sermos amigas e amigos dessa mulher extraordinária. Sim, porque estamos aqui também para reafirmar nossa amizade junto ao compromisso com a luta constante de Margarida pelos direitos humanos, a justiça e a paz.

Gratidão é pouco. Nossa gratidão só tem valor se vier embalada nesse compromisso. Somos também responsáveis pelas sementes que Flor Margarida plantou ao logo de décadas.

Pois então estamos aqui com gratidão e compromisso.

Querida Margarida – irmã, amiga, companheira, Mestra.

Bendita sejas, amém."