Os indígenas podem não ter dinheiro, mas não são pobres. E são hoje guardiões de nosso futuro. - Manifestação da Comissão Arns

Comissão Arns realiza ato de desagravo a Miriam Leitão

21 Abr 2022, 11:23 míriam_leitão_em_outubro_de_2016.jpg

Na noite do dia 20 de abril, a jornalista Miriam Leitão esteve com os integrantes da #ComissãoArns em um ato virtual de desagravo às recentes ofensas dirigidas a ela pelo deputado Eduardo Bolsonaro. Paulo Sérgio Pinheiro, membro fundador e primeiro presidente da Comissão Arns, fez a saudação inicial do encontro destacando o importante papel da jornalista na imprensa brasileira e como testemunha dos sofrimentos causados pela ditadura militar no Brasil.

Ele abriu a reunião em nome do atual presidente da Comissão, o ex-ministro José Carlos Dias. Os membros da Comissão Arns ressaltaram em suas falas a coragem e a integridade de Miriam, como profissional da imprensa e como cidadã, em defesa da democracia e dos direitos humanos, prestando solidariedade a ela diante dos ataques sofridos recentemente.

A jornalista agradeceu o ato de desagravo e destacou ser “um dia muito grande para quem valoriza direitos humanos”. Segundo ela, “o desagravo não é a mim, mas a todos nós. Todos nós estamos ofendidos e tivemos atingido o que temos de valor, que é o nosso pacto civilizatório. A democracia é de discordâncias pontuais e concordância no principal. O principal é a democracia em si e os valores humanos”, afirmou.

A presidente de honra da Comissão Arns, Margarida Genevois, que foi presidente da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e atuou diretamente com D. Paulo Evaristo Arns, declarou que Miriam é um “exemplo e incentivo”, principalmente em tempos de dificuldades para o país. “Há um precipício em nossos pés e precisamos fazer algo para não irmos nessa enxurrada, sobretudo diante dessas declarações variadas e irresponsáveis do governo do nosso país”.

Outro membro fundador da Comissão Belisário dos Santos Jr., que também integrou a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, lembrou de declarações de D. Paulo, de críticas à tortura, considerado por ele o mais grave crime cometido contra o ser humano. “Tendo sido a tortura o instrumento de dominação da oposição, é exatamente a ela que os algozes de hoje voltam para justificar o que ontem, pra eles, foi tão importante”, afirmou, solidarizando-se aos ataques sofridos pela jornalista.

“Estaremos sempre juntos no agravo e na luta contra os retrocessos”, completou. Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda e também membro fundador da Comissão Arns, destacou a coragem e firmeza de Miriam, “no jornalismo e perante a violência”, ao longo de sua trajetória de vida. Maria Victoria de Mesquita Benevides, também membro fundadora e integrante do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog, lembrou da mensagem constante de D. Paulo quando se despedia. “Coragem. É isso o que nós precisamos. Mas para você, Miriam, a gente não precisa dizer isso, porque coragem você tem”.

Paulo Vannuchi, ex-ministro de Direitos Humanos e membro fundador da Comissão Arns, lembrou da atuação da jornalista na imprensa, em defesa da Comissão Nacional da Verdade, e da importância de lançar luz sobre os casos da ditadura. “Só as feridas lavadas cicatrizam. O importante do passado é a construção do futuro”. Laura Greenhalgh, membro fundadora e diretora executiva da Comissão Arns, solidarizou-se à Miriam: “Falo como mulher jornalista e em nome de tantas outras que vêm sendo atacadas na sua condição de mulher por este governo. É importante nos manifestarmos firmemente contra essas agressões”.

Miriam Leitão reforçou que o trabalho realizado pela Comissão Nacional da Verdade foium “favor ao Brasil” e defendeu a importância das provas e registros sobre o período da ditadura militar no país. No encontro com a Comissão Arns, a jornalista relatou a violência sofrida na ditadura militar e lembrou de nomes que não sobreviveram, como Alexandre Vannuchi, Vladimir Herzog, Ana Rosa Kucinsky, Rubens Paiva, Stuart Angel e outros. "Em nome deles, temos que manter a firmeza".

Além disso, chamou a atenção para o período atual e os desafios que se apresentam. “A democracia está sob ataque. E quando está sob ataque, passamos por cima das nossas diferenças e dúvidas para defender a democracia. O pacto civilizatório de 1988 tem que ser preservado”, finalizou Miriam, que no último domingo tornou públicos áudios do Superior Tribunal Militar (STM) de militares admitindo torturas na época da ditadura.

A irmã da jornalista, Elizabeth Leitão, agradeceu à Comissão Arns pelo ato de desagravo e pela defesa dos direitos humanos. “Vamos na luta, estamos juntos”. Os filhos da homenageada, Vladimir Netto e Matheus Leitão, também participaram. Matheus lembrou das dores das vítimas e familiares durante a ditadura militar. “Agradeço por vocês estarem trazendo esperança para minha mãe, para minha família e todas as pessoas. São palavras de esperança para um ano que promete ser difícil”.