Nem agentes nem reféns do medo
20 Abr 2023, 18:10 Câmara de escola mostra professora sendo atacada - Foto: ReproduçãoA onda de ataques e ameaças a escolas e universidades, nas últimas semanas, além de covarde, aponta o claro objetivo de desestabilizar a sociedade brasileira. O controle social pelo medo é método antigo, empregado ardilosamente pela extrema direita para promover o caos e, a partir dele, gerar uma demanda por ordem. Naturalmente, uma ordem violenta e não democrática.
A sociedade brasileira não pode se tornar refém dessa estratégia perversa, que agora está usando crianças e escolas para aterrorizar o país. Uma estratégia que atende aos interesses dos que defendem o armamento da população, desacreditando a capacidade do Estado de promover a ordem e o direito à segurança a todos.
Uma estratégia que incentiva o discurso do ódio, com o objetivo de contaminar o ambiente político e radicalizar nossos jovens. Uma estratégia que ataca as instituições democráticas, agora mirando nas escolas, espaço central para a formação dos futuros cidadãos. Por fim, uma estratégia que fomenta o racismo, a xenofobia, a intolerância e o medo, como premissas para a construção de uma ordem autoritária.
Há alguns dias, assistimos ao deplorável espetáculo de representantes da extrema direita brasileira na Comissão de Segurança Pública da Câmara, visando constranger e calar o ministro da Justiça, Flávio Dino, que lá compareceu no intuito de apresentar iniciativas do governo —inclusive para ampliar a proteção das crianças que se encontram no ambiente escolar. Na voz inflamada de vários parlamentares extremistas, ouvimos as já conhecidas mensagens propagadoras da polarização e da desqualificação da justiça e da democracia.
A sociedade brasileira não pode se omitir em relação a esse projeto de destruição do Brasil e de comprometimento de um futuro próspero e democrático para as novas gerações. Projeto que agora vem jogando com os sentimentos das famílias e, ao mesmo tempo, empurrando seus radicais livres para atos criminosos.
Das autoridades espera-se a rápida identificação dos autores das ameaças que rondam as escolas, bem como a responsabilização das plataformas digitais como disseminadoras de conteúdos atentatórios à integridade física e segurança pública. As famílias poderão contribuir para a proteção de seus filhos acompanhando atentamente o que lhes é repassado como desinformação, bloqueando e denunciando mensagens de incitação ao crime.
As unidades de ensino precisam de maior apoio para garantir a segurança de suas comunidades, sem, no entanto, serem transformadas em ambientes repressivos e ostensivamente vigiados. Essas medidas devem ser implementadas em franco diálogo com famílias, estudantes e todo o entorno social no qual as escolas estão inseridas.
Somando nossas forças, devemos dizer em alto e bom som que não seremos agentes do medo. Não nos deixaremos capturar por essa sórdida campanha que busca semear o medo e criar o caos para impedir a construção de uma sociedade livre, próspera, justa e solidária.
Artigo originalmente publicado na Folha de S. Paulo, 18/4/2023