"A demarcação das terras indígenas e a proteção de seus povos é tarefa inescapável do Estado brasileiro e exige o compromisso, de boa-fé, de todos os Poderes da República." - Nota Pública da Comissão Arns

Nota Pública #9 - Em memória do Rabino Henry Sobel (1944-2019)

23 Nov 2019, 11:26 dom_paulo_e_sobel-enterro-herzog.jpg

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns vem a público manifestar com profundo pesar e grande reconhecimento homenagem à memória do rabino Henry Sobel, dia 21 de novembro, em Miami, nos Estados Unidos. O mundo perde um líder religioso notável, conciliador na permanente abertura ao diálogo e radical no compromisso com a dignidade humana. Sua trajetória e compromisso com a vida marcou a história do Brasil nos últimos 50 anos, ao se posicionar contra o arbítrio, o autoritarismo e os dogmatismos.

Rabino Sobel fez amigos de vida inteira entre os membros desta Comissão. Essa aproximação teve início nos anos duros da ditadura militar: era 1975 quando o jovem Sobel, recém-chegado dos EUA para chefiar o rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP), recebeu a notícia da morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Sobel não hesitou em contestar a versão oficial em torno de uma morte sob tortura, ao impedir que Herzog fosse enterrado no setor reservado aos suicidas em cemitério judaico, como queria e esperava o regime.

Sua coragem e ousadia continuaram nos dias seguintes. Convocado por D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, e ao lado do pastor presbiteriano Jaime Wright, Sobel ocupou o altar da Catedral da Sé para co-celebrar a missa de sétimo dia pela morte de Herzog, em ato ecumênico que reuniu 8 mil pessoas dentro e fora da igreja, causando a primeira grande fissura no monolito ditatorial.

Sobel será sempre lembrado por esses dias de dor e destemor. No entanto, sua trajetória esteve além desses momentos. Os defensores dos direitos humanos no Brasil sabem que puderam contar com o apoio e a palavra do rabino em momentos cruciais. Fosse com um preso político, um sem-terra, um jornalista sob ameaça ou um negro vítima de racismo, o sentimento de repulsa à injustiça o colocava imediatamente em ação. Não era só o rabino dos templos, mas das comunidades, dos movimentos sociais. Uma voz respeitada por todos os credos. Um homem muito acima das críticas de que foi alvo.

À família Sobel, a Comissão Arns envia as suas mais sinceras condolências. Esperamos que o legado de coragem e generosidade do ´rabino de todos´, tão necessário nos dias atuais, possa nos guiar na construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e essencialmente mais humana.

Foto: Autor não identificado, publicada no Portal Vermelho