Os indígenas podem não ter dinheiro, mas não são pobres. E são hoje guardiões de nosso futuro. - Manifestação da Comissão Arns

NP #63 - O duplo legado de Idibal Pivetta (1931-2023)

23 Out 2023, 17:14 IdibalPivetta Foto: Divulgação

Idibal Pivetta foi um dos grandes advogados brasileiros em favor da liberdade e da democracia. Sempre se opôs ao que entendia ser injusto, em relação a ele ou a qualquer pessoa. A ditadura iniciada em 1964 encontrou-o nas trincheiras da Justiça Militar, em que eram julgados, segundo a doutrina da Segurança Nacional, os inimigos do regime militar.

Ele próprio foi preso várias vezes, em uma delas com mais dez advogados paulistas, por se insurgir contra as torturas praticadas em um presídio que abrigava presos políticos. Os juízes não se importaram com as denúncias e um deles remeteu a petição ao DOI-Codi. O Superior Tribunal Militar desagravaria os advogados e censuraria os juízes.

Advogado sempre disponível, tinha um carrinho pequeno em que transportava seu “escritório”, uma máquina de escrever Olivetti Lettera, modelo portátil. Estudantes, operários, professores, artistas atingidos pela repressão tinham nele o advogado. Sua voz nunca se calou e ele nunca se furtou a defender qualquer pessoa. Impregnou daquele sentimento de indignação vários companheiros de escritório, entre eles, Airton Soares, Luiz Eduardo Greenhalgh, Miguel Aith, Paulo Gerab e Belisário dos Santos Jr., em tempos diversos. Seus amigos terão inúmeras histórias a contar sobre sua coragem, seu humor, sua ética e sua disposição para acolher uma vítima da injustiça.

Também no teatro, foi uma figura notável, sob o pseudônimo de Cesar Vieira. Autor de um texto tão forte quanto poético, levou o Teatro do XI à França, após ter ficado mais de ano em cartaz em um circo no Ibirapuera, em São Paulo, com a peça “Evangelho segundo Zebedeu”, dirigida por Silnei Siqueira, também já desaparecido.

Deu vida ao premiadíssimo Teatro Popular União e Olho Vivo que correu a periferia de São Paulo, assim como grandes cidades do Brasil e mundo, com histórias engraçadas e até pedagógicas de oposição ao autoritarismo. Na luta pela Anistia ou em atos contra a ditadura civil-militar, o União e Olho Vivo sempre esteve presente, com seus cantos em favor da liberdade e da democracia.

O legado de Idibal Pivetta permanecerá para sempre na memória dos que o conheceram. E muitos seguramente se lembrarão dele bradando uma das falas do “Evangelho”: “Sou que nem soca de cana, me cortem que eu nasço sempre”.

Ao relembrá-lo, a Comissão Arns homenageia este grande defensor dos direitos humanos que o Brasil perde no dia de hoje. Aos seus familiares, nossos sentimentos e nossa solidariedade.