"A demarcação das terras indígenas e a proteção de seus povos é tarefa inescapável do Estado brasileiro e exige o compromisso, de boa-fé, de todos os Poderes da República." - Nota Pública da Comissão Arns

Padre Jaime, presente, agora e sempre!

Maria Victória Benevides e André Alcântara 22 Fev 2023, 10:35 padre jamime - santos martires Padre Jaime Crowe - Foto: Adimildo Martinho

Nosso patrono, Dom Paulo Evaristo Arns, dizia que defensor de direitos humanos tinha que "incomodar"! O Padre Jaime, seu seguidor, incomodou e muito! Não deu sossego às autoridades e chegou a ser ameaçado com as penas do Estatuto dos Estrangeiros.

Jaime Crowe, recentemente falecido em sua Irlanda natal, veio para cá no final da década de 1960, em plena ditadura, com a missão de "combater o comunismo" que, para os católicos mais tradicionais, grassava na América Latina. Mas o jovem sacerdote logo se deu conta de que seu combate seria bem outro. Profundamente tocado por todo tipo de violência, miséria e injustiça nas periferias de São Paulo, abraçou a luta pela vida digna para todos.

O seu legado, lembrado por muitos, é a união entre o cristianismo em defesa da vida e da igualdade (todos somos filhos de Deus) e a cidadania plena, com efetiva participação popular. Assim, foi motivador, criador e participante ativo de movimentos e entidades como o Fórum e a Caminhada pela Vida e pela Paz, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a Pastoral Operária, a Comissão de Direitos Humanos da Região Sul.

Quando começou o trabalho no Jardim Ângela, este era o bairro mais violento de São Paulo, citado até pela Organização das Nações Unidas. Padre Jaime passou a denunciar incansavelmente tanto a violência quanto o abandono do povo pelos poderes públicos. E a cobrar providências! Ao contribuir para a fundação da Sociedade dos Santos Mártires, associação sem fins lucrativos, demonstrou como é possível uma comunidade de fé unir oração e ação, sendo que a terra prometida se concretiza na construção coletiva de uma sociedade justa, solidária e amorosa. O índice de violência em Jardim Ângela caiu muito e padre Jaime recebeu o Prêmio de Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns.

Foram várias as suas lutas: a defesa dos direitos das crianças e adolescentes para o acesso a educação e cultura; dos direitos das mulheres para que fossem protegidas em suas famílias; das pessoas idosas e das pessoas com deficiências, para que pudessem ser acolhidos e compreendidos em sua condição especial; dos jovens adoecidos e esquecidos pela lógica da competitividade, indiferença e meritocracia.

Foi um grande influenciador da juventude, compreendendo sua força e alegria capazes de transformar a realidade com criatividade e militância profética. Foi um pastor capaz de acolher, orientar, perdoar e amar a quem necessitasse, pois sua ética tem raízes no Evangelho, no Jesus dos pobres, humilhados e ofendidos, no Deus da misericórdia, da partilha, do diálogo e da justiça.

Fé na luta, em memória de padre Jaime e de todos os mártires da caminhada.

Padre Jaime, presente, agora e sempre!