"A demarcação das terras indígenas e a proteção de seus povos é tarefa inescapável do Estado brasileiro e exige o compromisso, de boa-fé, de todos os Poderes da República." - Nota Pública da Comissão Arns

Tragédia Yanomami: é preciso responsabilizar os culpados e quantificar os danos ambientais

15 Fev 2023, 10:59 operacao-yanomami-5- Ascom Ibama Operação do Ibama contra o garimpo nas TI Yanomami - Foto: Ascom Ibama

Um detalhado memorial sobre a situação de desamparo dos povos que habitam as Terras Indígenas (TI) Yanomami e Munduruku foi elaborado pela Comissão Arns, em meados de 2022, em apoio a um pedido urgente de providências apresentado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) ao Supremo Tribunal Federal. A legalidade das medidas requeridas foi justificada em parecer jurídico do professor Paulo de Bessa Antunes, em parceria pro bono com o escritório Campos Mello Advogados.

O memorial e o parecer traçam um profundo diagnóstico das ameaças, ataques e ilicitudes praticadas sob os olhos complacentes de um poder executivo omisso, entre inúmeras outras agressões aos direitos das populações originárias. Tais violações causaram danos irreparáveis não só à saúde dos indígenas, mas ao ecossistema da região.

“As autoridades responsáveis não apenas se omitem, mas estimulam as mais diversas ilegalidades”, diz o texto, que apresenta as seguintes medidas práticas de proteção judicial da TI Yanomami, para além do planejamento de operações de extrusão e bloqueio logístico:

“Mesmo que outros esforços institucionais ainda se façam necessários no futuro, por meio de políticas de segurança pública mais sérias e bem orientadas no sentido apontado pela Constituição em vigor, cremos que as medidas urgentes de redução emergencial de danos requeridas pelos indígenas são perfeitamente viáveis, do ponto de vista constitucional”, reforçam os documentos apresentados ao Supremo Tribunal Federal.

Com a instalação do novo governo, muitas dessas providências já foram tomadas, como a retomada do controle sobre o espaço áereo e a repressão ostensiva aos ilícitos.

“Sem dúvida, há avanços palpáveis na proteção dos direitos fundamentais dos Yanomami. Mas é preciso responsabilizar legalmente os envolvidos nos âmbitos civil, funcional e criminal, por suas ações e omissões altamente reprováveis. E também ainda resta quantificar os danos ambientais, para fins de reparação”, diz o advogado Luiz Armando Badin, membro associado da Comissão Arns e um dos autores do memorial juntamente com o advogado Henrique Castro.

O memorial e o parecer jurídico estão disponíveis no site da Comissão Arns para consulta ou embasamento de outras possíveis ações da sociedade civil.