"A demarcação das terras indígenas e a proteção de seus povos é tarefa inescapável do Estado brasileiro e exige o compromisso, de boa-fé, de todos os Poderes da República." - Nota Pública da Comissão Arns

Pela democracia, Comissão Arns envia carta ao Papa

22 Set 2022, 12:33 papa-vatican news Foto: © Vatican Media

Carta ao Papa Francisco

São Paulo, 23 de setembro de 2022

“É com profunda admiração, humildade e sentido de urgência que a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns dirige-se à Vossa Santidade nesta carta. O Brasil prepara-se para escolher aqueles que irão dirigir os seus destinos, começando por quem irá assumir a presidência da República. Seria um momento de júbilo, de coesão nacional e de afirmação da soberania popular não fossem as ameaças que pairam sobre algo precioso para o povo brasileiro: a democracia. E, no centro dela, o direito de 156 milhões de eleitores brasileiros escolherem seus representantes em clima de respeito, liberdade e paz.

Marcado por profundas injustiças, mas aquinhoado pelo encontro de diferentes raças, nosso país enfrenta tempos difíceis: o desemprego alcança milhões de pessoas, a fome voltou aos lares, 690 mil vidas foram perdidas para a Covid-19, a violência explode no campo ou na cidade e nossas florestas continuam a ser consumidas pelas queimadas, pelo contrabando de madeira, pela mineração desenfreada que contamina os rios, mata os peixes, envenena as pessoas. Problemas não faltam neste vasto Brasil que teria tudo para abraçar um projeto de futuro promissor, voltado ao bem comum, com inclusão, justiça social e solidariedade.

No entanto, neste 2 de outubro de 2022, os eleitores vão às urnas pressionados não só pelas vicissitudes da vida, mas pelas ameaças de ruptura da ordem democrática. São ameaças que partem de quem parece não aceitar um resultado eleitoral que não lhe favoreça. Que são diuturnamente inflamadas pelo discurso de ódio propagado a partir de gabinetes oficiais, para dividir os brasileiros, jogando uns contra os outros. Que estigmatizam mulheres, afrodescendentes, indígenas, fiéis de distintas religiões, promovendo sobretudo o extermínio da juventude negra e pobre, no contexto de um projeto criminoso de armar a população.

Santo Padre, por isso vimos à Vossa presença pedir pela sociedade brasileira: que ela possa exercer o direito fundamental de escolher um futuro melhor e mais decente para si mesma. Brasileiras e brasileiros de todos os rincões, de todas as culturas e todos os credos, precisam do Vosso olhar e do Vosso apoio neste momento. É o que solicita esta Comissão Arns que, em 2020, no primeiro ano da pandemia, celebrou o “Pacto Pela Vida e Pelo Brasil” ao lado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em um manifesto endossado por todo o país.

Lembramo-nos das Vossas palavras no Santuário de Aparecida, em 2013, no marco da Jornada Mundial da Juventude, quando, referindo-se aos “construtores do futuro”, Vossa Santidade salientou a importância de manter a coragem, de viver a fé quando o desânimo nos abate e de impedir que a esperança se apague nos corações. Vossa mensagem segue viva entre nós, ecoando nosso patrono, Dom Paulo Evaristo Arns, e nos dando forças para ir adiante na luta pelos direitos humanos de todos e, em particular, dos injustiçados e vulneráveis”.

Com toda a nossa gratidão,

Margarida Genevois, presidente de honra da Comissão Arns

José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns

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